BATOM, CHUMBO E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR

Os batons são um dos produtos cosméticos mais utilizados em todo o mundo. Entretanto, constantemente esse produto é mencionado na internet tendo seu nome vinculado a contaminação de chumbo e metais pesados… Mas, até que ponto devemos dar atenção a essas notícias e quando devemos realmente nos preocupar? O batom realmente contém chumbo em sua formulação? Confira!

Sem dúvida, os cosméticos para maquiagem são os mais popularmente difundidos nas diferentes culturas. Seu uso apresenta um hábito milenar, descrito até no famoso Livro dos Mortos (uma coleção de papiros que trazem a descrição de diversos feitiços e de receitas, preces e ladainhas que eram depositados junto as múmias, no Egito Antigo, para facilitar sua jornada ao paraíso) que tem mais de 4 mil anos de existência.

Contudo, escondidos em suas formulações, podem existir ingredientes tóxicos de diversos tipos. Portanto, é necessário alertar as pessoas caso tenha riscos e da importância da informação, sem limitar o uso de produtos de beleza, pois, felizmente, a maioria das marcas estão atentas e melhorando as suas fórmulas para serem menos tóxicas.

 

TOXICIDADE DO CHUMBO

 

Um dos mais conhecidos contaminantes em cosméticos é o chumbo. De tempos em tempos, ressurge a discussão sobre esse tema. A discussão é retomada ora por estudos acadêmicos, ora por simples boataria eletrônica veiculada por meio de e-mails e sites.

O chumbo é um metal tóxico, não essencial e que se acumula no organismo. No organismo humano, o chumbo não é metabolizado, e sim, complexado por macromoléculas, sendo diretamente absorvido, distribuído e excretado.

O organismo acumula chumbo durante toda a vida e o libera de forma extremamente lenta, devido à sua grande afinidade pelo sistema ósseo. Em adultos, a intoxicação com chumbo afeta os sistemas neurológicos, hematológico, gastrointestinal, cardiovascular e renal. Nas crianças, o chumbo interfere no desenvolvimento do sistema nervoso central e do cérebro, acarretando prejuízo das funções cognitivas e atraso mental.

Uma particularidade desse agente é a sua capacidade de contaminar o feto por meio do organismo materno: durante a gestação e a lactação, o chumbo retido nos ossos da mãe é deslocado para a corrente sanguínea. Assim, ocorre a contaminação do feto durante a gestação, e a do bebê durante a lactação. Portanto, o histórico de exposição da mãe ao chumbo interfere diretamente na saúde do bebê, uma vez que esse material pode ficar retido durante décadas no organismo materno.

O consumo de alimentos cultivados em solos contaminados ou provenientes de animais que se alimentam de plantas cultivadas nesses solos é, antes de mais nada, a principal fonte de contaminação humana pelo chumbo.

Já nos cosméticos, as possíveis fontes de contaminação por chumbo são encontradas em corantes e pigmentos, podendo originar-se durante o processo de fabricação, nas matérias-primas de origem vegetal por meio de deposição e biocumalação e nas de origem animal, por biocumulação. Entretanto, em qualquer situação, é possível realizar um controle rígido da qualidade das matérias-primas, fazendo-se a analise de teor de chumbo pela técnica de absorção atômica.

Dessa forma, reforça-se a importância do controle de qualidade, que deve implicar na verificação ou na garantia da qualidade de cada ingrediente empregado em relação aos contaminantes presentes. Além disso, é recomendada a qualificação de fornecedores que atuem ativamente para assegurar os limites mínimos de contaminação.

 

BATOM, CHUMBO E SEGURANÇA DO CONSUMIDOR

 

Destinados a modificar o aspecto natural dos lábios dando-lhes uma tez diferente, um reflexo brilhante ou não, os batons apresentam cores variadas.

Sua composição é baseada em pasta gordurosa adicionada de corantes e adjuvantes dispersos. Eles são compostos por ceras que fornecem ao batom brilho e consistência; corpos graxos pastosos que proporcionam suavidade e aderência; óleos responsáveis pela untuosidade e fluidez, facilitando sua aplicação e dando brilho, características importantes para atrair a clientela.

Para que o batom seja considerado de boa qualidade é necessário que possua aplicação facilitada, película uniforme, boa aderência, resistência ao toque, superfície suave, untuosa e escorregadia, cor no lábio igual à da apresentação descrita no rótulo, manter-se estável durante sua vida útil, não deve se quebrar, não sofrer influência da temperatura de armazenagem e da aplicação, não possuir sabor ou odor desagradáveis e não irritar a mucosa.

Os batons apresentam coloração específica e para tanto são utilizados pigmentos orgânicos e inorgânicos, ou lacas insolúveis. Os pigmentos inorgânicos são produzidos a partir de minerais, como, por exemplo, óxido de ferro (cores amarelo, vermelho e marrom) e óxido de titânio (fornece opacidade, aderência).

Eles podem ser pigmentados (acabamento mate), gelados (brilho perolado), metálicos (corantes insolúveis precipitados) ou transparentes (brilhantes). A combinação e a quantidade dos componentes do batom vão depender da aparência, cobertura e durabilidade (fixação) desejada para o batom.

Contudo, é importante observar que nem sempre os corantes e pigmentos inorgânicos possuem a pureza desejada, contendo elementos que podem ser tóxicos, tais como níquel, cromo, chumbo, mercúrio e arsênio. Esses elementos tóxicos e seus compostos, quando solúveis em água, podem ser absorvidos pela mucosa, principalmente se o cosmético for formulado na forma líquida ou pastosa.

Por isso, no preparo de formulações cosméticas é necessário utilizar substâncias corantes que devem seguir especificações de identidade e pureza, estabelecidas por órgãos regulatórios. Assim, o uso de corantes inorgânicos nessas formulações é permitido desde que sejam insolúveis em água, além de existir uma lista de substâncias corantes permitidas para o preparo de formulações para produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes.

Mesmo assim, os batons são constantemente mencionados nas redes sociais tendo seus nomes vinculados à contaminação de chumbo e metais pesados, como a polêmica notícia sobre o “Batom da Morte” a alguns anos atrás, na qual foram mencionados os perigos da contaminação por chumbo e o desenvolvimento de tumores.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) esclarece que o chumbo não é utilizado em batons. Esta substância poderá aparecer apenas como contaminante dos corantes e pigmentos utilizados em maquiagens, sendo que o limite máximo permitido é 20 (vinte) ppm (partes por milhão) conforme estabelecido no Decreto Federal 79.094/77, art. 49, item III – “g”.

Mas será que essa lei da Anvisa está sendo obedecida? É preciso dar uma tenção especial aos batons, devido ao seu uso amplo e contínuo, além do uso crescente a cada ano por crianças, tendo em vista a possibilidade de acúmulo de substâncias tóxicas?

Afinal, como o chumbo se acumula no corpo com o tempo, a dúvida que surge é se a aplicação frequente e diária de batons que contenham o produto químico em sua composição, pode representar a exposição a níveis significativos da substância e, consequentemente, causar risco à saúde.

Diante desse cenário de dúvidas do consumidor aliado a informações que são divulgadas na internet, o Inmetro, no ano de 2016/2017, realizou uma avaliação de batons disponíveis no mercado de consumo, no que diz respeito ao atendimento aos critérios estabelecidos na legislação para a concentração de chumbo e a questões de saúde para o consumidor.

Para a avaliação, foram selecionadas 15 marcas de batons de diferentes cores, tipos e procedência, e o teor de chumbo das amostras analisadas estava abaixo dos valores recomendados pelo regulamentador brasileiro, o que é considerado adequado e segue uma tendência mundial.

As cores que apresentaram maiores concentrações de chumbo foram o marrom e o vermelho, seguidos do rosa, roxo e coral, esta última com menor teor do metal, mesmo assim o teor de chumbo dos batons estavam bem abaixo do limite imposto pela ANVISA.

A tendência dos batons comercializados no Brasil é de possuírem um nível máximo de chumbo menor que 5 mg/kg e que a maioria possui um teor máximo de 1 mg/kg. Este resultado é consistente com outros estudos realizados em outros países, como Estados Unidos e Japão.

Contudo, ainda não existe um nível seguro de exposição ao chumbo, segundo a maioria dos estudos recentes. Assim, um produto considerado seguro para um adulto pode ser tóxico para um criança e gestante.

De maneira geral, as quantidades ingeridas por dia são baixas e não são suficientes para causar intoxicação no organismo, porém o chumbo é um metal que sofre bioacumulação, se depositando no tecido ósseo principalmente. Logo, aplicar cosméticos contendo chumbo várias vezes ao dia ou a cada dia, pode potencialmente somar aos níveis de exposição significativa.

Atualmente a demanda por produtos cosméticos estáveis, seguros e eficazes é alta, bem como a preocupação com a toxicidade do chumbo para a saúde humana. Dessa forma, é natural que os consumidores se preocupem quanto a composição dos produtos que utilizam e as informações difundidas, mas, diante dos resultados encontrados na análise, percebe-se que a grande maioria das notícias que circulam são infundadas, ou seja, as “fake news” circularam no WhatsApp, no Facebook e em blogs com o objetivo de propagar boatos pela internet de forma que a informação distorcida chegue ao maior número possível de pessoas.

Sendo assim, o Inmetro alerta para a importância de se checar a fonte da informação que chega pela internet. Além disso, especificamente com relação aos batons, é importante chamar atenção das usuárias para que na hora da compra verifiquem se a empresa possui registro de produtos cosméticos na Anvisa.

 

 

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