As formulações dos fixadores/estilizantes capilares têm evoluído no decorrer dos anos em relação às matérias-primas, aos ingredientes funcionais, às formas cosméticas e aos materiais de embalagem. Portanto, entenda mais sobre formulação de géis, sprays, entre outros produtos que mantêm o penteado no formato desejado, com aparência natural e com a possibilidade de obter vários graus de fixação. Confira!
Independente da época ou da região geográfica, o ser humano tem utilizado diversas substâncias com o propósito de modificar a forma natural do cabelo ou de manter o penteado, de acordo com a sua cultura e do período histórico.
No decorrer das décadas vimos muitas tendências e estilos de cabelos, e nos últimos anos percebe-se que a moda tem favorecido o estilo suave, com aparência natural, o que levou ao aumento da demanda por produtos que conferem maleabilidade, volume e facilidade para desembaraçar os fios dos cabelos. Atualmente, pode-se obter uma grande variedade de estilos e manter o penteado no formato desejado, sem alterar a estrutura interna dos fios de cabelo.
Além de que, adicionalmente, as formulações desses tipos de produtos ajudam a tratar os fios, conferindo-lhe condicionamento e proporcionando-lhe os atributos almejados pelos usuários. Uma vez que os fixadores/estilizantes e os laquês capilares cumprem as finalidades de permitir o controle e a maleabilidade, proporcionar brilho e manter a forma do cabelo, preservando seu movimento durante as atividades diárias e sob diferentes condições ambientais (vento, umidade, frio, calor etc.).
A escolha de um fixador/estilizante, em geral, está relacionada à capacidade de fixação que o produto proporciona. Entretanto, pesquisas e estudos de mercado demonstraram que a maioria dos usuários considera que a suavidade ao toque promovida pelo produto é tão importante quanto sua capacidade de fixação. Além disso, uma característica imprescindível é que o produto seja facilmente removido durante a lavagem com um shampoo tradicional.
FIXADORES/ ESTILIZANTES CAPILARES: TIPOS E FORMULAÇÕES
Existem diversos tipos de fixadores/estilizantes, como: brilhantinas (formulações oleosas), emulsões, preparações formuladas com polímeros (produtos não oleosos) e laquês capilares. Esses produtos podem ser usados no cabelo úmido ou seco e nestes estágios na rotina de cuidados do cabelo: quando se inicia o penteado, ao modificar a disposição dos fios e na finalização, como forma de fixá-lo.
Veja abaixo alguns tipos de fixadores/estilizantes capilares.
1 – Brilhantinas
Os fixadores/estilizantes do tipo brilhantina, que se caracterizam pelo alto teor de componentes graxos, foram os primeiros produtos usados para essa finalidade na história. Existem evidências, nas tumbas egípcias, da presença de óleos perfumados que seriam aplicados nos cabelos. Além disso, sabe-se que produtos semelhantes a esses também foram utilizados pelos romanos.
A formulação tradicional desses produtos inclui substâncias que conferem brilho, como: óleos vegetal e mineral, ésteres graxos, glicerídeos, lanolina e seus derivados, e álcoois graxos; compostos formadores de película; lubrificantes (parafina, cera microcristalina, glicerídeos, lanolina e seus derivados); condicionadores (amidas de ácidos graxos, compostos catiônicos e derivados de proteína); e perfume.
Os óleos (vegetais e minerais) e as gorduras ajudam na manutenção do penteado, porém, quando são aplicados no cabelo seco, espalham-se de maneira não homogênea e, assim, não o plastificam. Por essa razão, muitos usuários de brilhantinas preferem umedecer os fios antes da aplicação do produto oleoso, o que ocasiona a formação de emulsões in loco.
Desse modo, a água atua facilitando o penteado e a forma obtida se mantém, mesmo após a evaporação da água devido à presença do componente graxo. Porém, em razão do aspecto “gorduroso” que o produto deixa no cabelo e da disponibilidade de novas técnicas, matérias-primas e formas cosméticas, ocorreu redução da frequência de uso desse tipo de fixador/estilizante.
Tipos de Brilhantina
As brilhantinas são formuladas nas formas líquida (solução oleosa e alcoólica), semissólida (pomada) e bifásica. O aumento da viscosidade proporciona maior fixação do produto no cabelo, porém dificulta a uniformidade no espalhamento.
2 – Emulsão
As emulsões apresentam características mais agradáveis que as brilhantinas porque minimizam a sensação “gordurosa” e permitem que se forme uma película uniforme de componentes graxos sobre cada fio de cabelo.
As emulsões do tipo água em óleo (A/O) oferecem maior poder de fixação e são aplicadas de forma mais homogênea no cabelo do que as do tipo óleo em água (O/A). Porém, apresentam o inconveniente de que a pouca água presente na preparação evapore.
As formulações devem ser estáveis em relação às mudanças de temperatura e ao seu manuseio durante o transporte, mas é conveniente que se espalhem nos fios com facilidade ao serem friccionadas nas mãos, para não deixar uma película branca em ambos. Essas propriedades são obtidas incorporando-se à formulação um tensoativo não iônico que produza uma interface entre o óleo e a água das emulsões. Para obter maior estabilidade, pode-se agregar álcoois graxos de lanolina ou colesterol.
No entanto, as emulsões óleo em água (O/A) produzem sensação menos untuosa que as do tipo água em óleo (A/O) e não conferem tanto brilho e oleosidade ao cabelo quanto estas.
3 – Poliméricos
Os primeiros produtos não oleosos usados como fixadores/estilizantes foram os géis aquosos ou hidroalcoólicos de polímeros naturais, como gomas (arábica, adraganto, caraia), que possuem poder aderente e têm efeito coesivo nos fios de cabelo.
Essas formulações, denominadas “gominas” apresentavam muitos inconvenientes, como a formação de películas higroscópicas que, em atmosfera úmida, se agregavam e deixavam o cabelo com aparência dura e opaca. Além disso, durante a escovação, as partículas de goma se desprendiam em forma de escamas, acumulando-se no couro cabeludo, assemelhando-se à caspa. Posteriormente, os polímeros acrílicos (carboxivinílicos) substituíram as gomas.
A polivinilpirrolidona (PVP) foi a primeira substância polimérica utilizada para esse fim, porém está praticamente em desuso por ser muito higroscópica. Depois, foram sintetizados polímeros menos sensíveis à umidade. Os mais utilizados atualmente são: copolímeros de vinil pirrolidona e acetato de vinila (PVP/VA); polímeros aniônicos (derivados do ácido carboxílico); polímeros anfóteros; e dimetil-hidantoína-formaldeído (resina DMHF). Além desses polímeros, nos últimos anos, muitos polímeros destinados à aplicação em formulações fixadoras foram patenteados como PEGMA12 e biopolímeros de fontes naturais renováveis.
Os fixadores/estilizantes poliméricos permitem manter a mudança da forma do cabelo durante longo período de tempo, pois formam envoltórios invisíveis ao redor do fio de cabelo, o que proporciona adesão à fibra capilar e manutenção do efeito, permitindo que o penteado dure por mais tempo. Esses produtos devem ser compatíveis com a umidade do cabelo no momento da aplicação, e, depois que ele estiver seco, deve ser resistente à umidade externa de forma que a película formada permaneça flexível e não se rompa liberando fragmentos.
Esses tipos de cosméticos são denominados produtos plastificados, pois sua formulação baseia-se na incorporação ou na associação de polímeros plastificantes (derivados da lanolina e de ésteres e silicone) que facilitam a retirada intencional do produto durante a lavagem. Outras substâncias, além destas, podem ser adicionadas ao produto, como: agentes condicionadores (álcoois graxos, agentes tensoativos catiônicos, ésteres de polietileno-propilenoglicol e derivados de lanolina); solventes, geralmente água e etanol como veículo, para facilitar a solubilização dos ingredientes e a evaporação do produto; e fragrâncias e corantes.
Existem diversas formas cosméticas à base de polímeros, entre as quais se destacam: dispersões, géis, espumas em aerossol e sprays.
Os primeiros sprays que surgiram no mercado eram chamados laquês e consistiam em soluções alcoólicas de goma de laca, aplicadas sobre o cabelo por meio de um frasco plástico do tipo vaporizador. A película formada pela goma de laca era praticamente insolúvel. Para facilitar sua eliminação por meio da lavagem, foram incorporadas diversas substâncias plastificantes à goma de laca. Apesar dessas modificações, os produtos não davam resultados satisfatórios, deixando o cabelo com aspecto “endurecido” e artificial.
A aplicação do spray capilar deve ser realizada com uma força de pulverização suave, de modo a produzir gotas finas. A película formada no cabelo deve ser flexível, para que não rompa devido ao movimento deste; ser transparente e incolor; proporcionar brilho; secar rapidamente; ser pouco viscosa, para permitir a distribuição uniforme do produto no fio; não deve deixar resíduo sob a forma de pó nem sensação pegajosa; não deve ter efeito higroscópico, mas deve ser sufi cientemente solúvel em água para que seja completamente eliminada durante a lavagem; e deve apresentar afinidade adequada com a queratina do cabelo.
A composição típica de um spray fixador/estabilizante inclui: polímeros (PVP/ VA, PVP K30, entre outros); agentes plastificantes, como óleo mineral, lanolina, óleo de rícino e palmitato de butila; condicionadores, como pantenol, proteínas vegetais e proteínas animais hidrolizadas; solventes, como etanol e álcool isopropílico; neutralizadores; gases propelentes; e aditivos, como fragrância, antioxidantes e inibidores de corrosão.
4 – Fixadores/Estilizantes Multifuncionais
O desenvolvimento de novos produtos fixadores/estilizantes tem se baseado na busca por produtos multifuncionais, ou seja, que apresentem atributos diferenciados em relação aos produtos tradicionais. Assim, os fixadores/estilizantes multifuncionais devem tratar os cabelos enquanto mantêm fixa a forma do penteado.
Por isso, a indústria tem investido muito nas substâncias que apresentam elevada afinidade com a queratina, como os polímeros catiônicos e os quaternários. Ambos apresentam estruturas semelhantes, porém os polímeros catiônicos possuem mais sítios catiônicos por molécula e maior peso molecular. Uma vez depositados nos cabelos, eles neutralizam as cargas negativas presentes na fibra, garantindo a maleabilidade e a penteabilidade, além de aumentar o volume dos fios.
Além dos compostos catiônicos, os silicones têm sido incorporados às formulações de fixadores/estilizantes, garantindo-lhes atributos diferenciados. Estes são conhecidos por sua atividade redutora de fricção, a qual também causa melhor sensação ao toque do cabelo. O efeito de redução da fricção é proveniente da forma molecular flexível. Os silicones apresentam baixa tensão superficial, o que aumenta a molhabilidade e o espalhamento do produto nos fios de cabelo.
Atualmente, o polímero mais amplamente utilizado em produtos cosméticos e de cuidados pessoais é o poli-dimetil-siloxano (PDMS), um derivado de silicone que é mais conhecido como dimeticone. O dimeticone é um homopolímero híbrido inorgânico-orgânico formado por unidades de dimetil-siloxano que se repetem.
Apesar de sua estrutura química ser relativamente simples, o dimeticone apresenta propriedades físicas exclusivas que o tornam efetivo no condicionamento e na proteção dos cabelos, além de melhorar os atributos sensoriais das formulações.
O dimeticone pode ser adicionado a diversos produtos destinados aos cabelos, como shampoos, condicionadores e produtos para penteados, pois proporcionam uma série de benefícios, como maior brilho, lubricidade (para reduzir a tração do pente) e carga triboelétrica reduzida (para minimizar a repelência entre os cabelos), causada pela eletricidade estática.
Os polímeros estão se tornando mais complexos, porém o avanço tecnológico possibilita o surgimento de polímeros funcionais mais específicos, que atendem a necessidades específicas referentes aos cuidados pessoais, como o tratamento de cabelos.
Veja também “PERFUMARIA: PRODUÇÃO DE PRODUTOS COSMÉTICOS HIDROALCOÓLICOS.”
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Referência
Cosmetics e Toiletres vol 26. set-out 2014