ESCOVA PROGRESSIVA– TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE O FORMOL

É de conhecimento público que o formol é uma substância muito perigosa e o seu uso É PROIBIDO em produtos cosméticos alisantes, sendo considerado crime hediondo, de acordo com o artigo 273 do Código Penal brasileiro, utilizá-lo como ativo de sistemas de alisamento capilar.

 

 

 

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, o formol somente é permitido ser usado em produtos cosméticos como conservante, em concentrações muito baixas (0,2%)e sendo incorporado no produto durante a fabricação.  O formol também pode ser usado como endurecedor de unhas na concentração de até 5%. Qualquer outro uso é proibido e acarreta sérios riscos à saúde.

Com o intuito de tentar coibir o uso indevido de formol em produtos alisantes, a ANVISA proibiu a exposição, venda e entrega de formaldeído (37%) em drogarias, farmácias, supermercados, armazéns entre outros estabelecimentos comerciais.

Mas mesmo assim, o mercado ainda tem muitos produtos alisantes com formol, pois, além de ser mais barato, é um processo rápido e que deixa os fios com brilho intenso. Muitas indústrias produtoras e até mesmo importadoras produzem, adulteram ou falsificam os produtos alisantes com esse ativo ilegal, muitas vezes, levando o profissional cabeleireiro e o consumidor final a acreditar que estão usando um produto sem essa substância.

Mas também têm muitos profissionais e consumidores, que mesmo sabendo de todos os riscos, preferem utilizar progressivas com formol porque acreditam que alisam mais os fios, deixam os cabelos mais bonitos e brilhantes. Porém essa é apenas uma doce ilusão, que pode ter consequências muito amargas, principalmente para o profissional que aplica e o consumidor final que usa.

Portanto precisamos compreender como funciona a escova progressiva com formol para não cair no conto da carochinha.

Quem aprende, não depende!

Então bora lá!

 

ESCOVA PROGRESSIVA– TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER O FORMOL

 

1 – O que é o formol?

O formaldeído é o nome comum do composto orgânico metanal (H₂CO), pertencente à função orgânica aldeído, sendo o mais simples dos aldeídos, com um único átomo de carbono que realiza uma dupla ligação com o oxigênio.

O formaldeído se apresenta como gás em temperatura ambiente e é um composto instável, decompondo-se com facilidade em metanol e dióxido de carbono. Em razão dessa instabilidade química, o formaldeído é comercializado industrialmente sob a forma de solução aquosa também chamada de formol, formalina, metanal, aldeído fórmico, oxometano, oximetileno.

Essa solução aquosa de formaldeído é obtida industrialmente através da oxidação do metanol na presença de ar e catalisadores de óxidos metálicos ou de prata,em meio ácido.

 

Em temperatura ambiente, o formol facilmente volatiliza em um gás incolor, irritante, inflamável, corrosivo e com um odor pungente característico. É solúvel em água e altamente reativo, sendo capaz de reagir quimicamente com as mais diversas substâncias.

Por ser bastante volátil em temperatura ambiente, o formol apresenta elevada toxicidade (inclusive seus vapores), em razão da facilidade de intoxicação pelas vias aéreas, possuindo poder carcinogênico comprovado,ou seja, o formol é capaz de provocar algum tipo de câncer.

 

2 – Como surgiu a Escova Progressiva de Formol?

No final da década de 1990 surgiu no mercado de transformação capilar a escova definitiva ou escova japonesa, a base de tioglicolato de amônio, que prometia alisar os fios. Mas era um procedimento caro, muito demorado – 8 a 10 horas, e deixa os cabelos com um aspecto artificial.

Foi então que no início dos anos 2000 surgiu a escova progressiva de formol, que é uma invenção brasileira, desenvolvida por um cabeleireiro do Rio de Janeiro, que usou a escova japonesa como inspiração e fez algumas modificações.

Diferente da escova japonesa que tem um pH alcalino, o formaldeído (formol), apesar de não ser um ácido, tem o pH ácido devido a sua produção em forma líquida ser em meio ácido, pertencendo, portanto, ao grupo dos alisantes ácidos, sendo a primeira substância utilizada com essa finalidade.

A utilização do formol elevou a popularidade do procedimento a outro patamar, em razão dos resultados obtidos: alisamento satisfatório na primeira aplicação, com fios brilhantes. Mas para que ele pudesse alisar minimamente os cabelos, precisava ser utilizado em concentrações muito acima da recomendada pela Anvisa de 0,2%, ou seja, formol a 0,2%, funcionava como conservante, mas nunca funcionou como alisante.

Alguns trabalhos científicos já publicaram que para que uma progressiva com formol possa efetivamente dar o efeito liso ao fio é necessário que ele esteja presente em uma concentração extremamente alta, entre 20 e 30%, o que o torna potencialmente perigoso a saúde humana.

Mas no início dos anos 2000 a informação sobre a periculosidade do formol ainda não era amplamente divulgada, e apesar do formol ser limitado pela ANVISA em 2001 apenas como conservante e endurecedor de unhas, em baixas concentrações, ele passou também a ser usado e comercializado nas formulações de produtos para alisamento e redução de volume dos fios de cabelo. E a partir daí surgiram várias denúncias e evidências da periculosidade do formol para o cabelo e a saúde.

Em 2004, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IACR), órgão da Organização Mundial de Saúde (OMS), classificou o formol como uma substância carcinogênica para o ser humano.E em 2009 a ANVISA proibiu a comercialização do formol em estabelecimento comerciais e o uso do mesmo em produtos alisantes, para proteger a saúde de profissionais cabeleireiros e dos consumidores.

Porém, apesar do uso de formol como alisante ser PROIBIDO, 35% dos fiscais de Vigilâncias Sanitárias de estados e municípios que participaram de uma pesquisa da Anvisa sobre este tema, divulgada no início do ano de 2020, relataram ter constatado o uso irregular de formol em alisantes.

 

3 – Como o formol alisa os cabelos?

O formol juntamente com outros ingredientes chamados de polimerizadores secundários forma uma plastificação ou vitrificação instantânea através de um processo de desidratação térmica.

O que isso quer dizer?

Que o formol sozinho até consegue alisar os cabelos. Por ser uma molécula bem pequena, ela consegue chegar ao córtex capilar e modificar sua estrutura, porém ficou constatado em testes de laboratório que o formaldeído como ativo alisante integrado a uma fórmula cosmética padrão, tem um potencial de dano de até 70% da fibra capilar na terceira aplicação, ou seja,na terceira ou na quarta progressiva o cabelo iria se partir, cair, dissolver. E é o que aconteceu no inicio dos anos 2000.

Então, para o formol não chegar até o córtex capilar e comprometê-lo, foi feito uma conexão do ativo formol com outros ingredientes considerados ativos secundários como blends de aminoácidos e alguma proteína hidrolisada como a queratina, que vão fazer uma rápida ligação com formol, principalmente no processo de aquecimento com o produto ainda nos fios, formando uma substância de alta massa molar que cria uma capa impermeabilizante na parte externa do cabelo, ou seja, na cutícula.

Dessa forma, o formaldeído rompe as ligações entre os átomos de enxofre das ligações de dissulfeto presentes na cutícula do cabelo e se liga as proteínas que compõem a camada externa do fio e aos aminoácidos hidrolisados da solução de queratina que, à medida que é removida a umidade em excesso dos fios através do uso de equipamentos de emissão térmica como secador e chapinha, formam um filme ou uma película espessa de alta massa molecular ao longo dos fios, impermeabilizando-o e mantendo-o rígido e liso.

Então, quando aplicamos a escova progressiva nos fios e em seguida, utilizamos secador e chapinha, estamos retirando, através dessa alta temperatura, a água existente ali no cabelo e o produto que estava amolecido nos fios começa a se enrijecer e a formar uma camada na cutícula dos fios, promovendo a aparência de liso e brilhante.

 

4 – Quais são os riscos do formol para os cabelos?

Perceba que a mudança estrutural provocada pela escova progressiva com formol não ocorre no córtex, ou seja, na parte interna do fio, mas sim na camada mais externa que é a cutícula, formando uma película que age como uma barreira de proteção, impedindo a entrada de qualquer agente externo. Então os cabelos permanecem bonitos e brilhantes por fora, mas,devido a essa barreira de proteção, não recebem por alguns meses oxigênio, nutrientes, hidratantes, umectantes e vitaminas, que são essenciais para a saúde dos fios.

O formol também deixa os fios rígidos, e, portanto, suscetível à fratura (quebra) diante dos traumas normais do dia a dia, como pentear e prender os cabelos.

Além da quebra e ressecamento dos fios, a oleosidade do couro cabeludo aumenta, pois, esta barreira de proteção não permite que o óleo natural dos cabelos escorra pelos fios. A ausência desses componentes oleosos torna os cabelos endurecidos, sem maleabilidade e sem brilho.

Com o tempo e uso repetitivo, o formol pode causar graves danos à fibra capilar, além da perda da massa capilar, causando o afinamento dos fios e em alguns casos, a queda generalizada e a perda dos mesmos. Além disso, o formol ainda pode causar irritação, coceira, vermelhidão, inchaço, hipersensibilidade e lesões graves ao couro cabeludo, comprometendo o crescimento natural do cabelo.

Então quando a progressiva sai do cabelo e ele perde o efeito do liso, é revelado como realmente a progressiva deixou o cabelo – uma haste extremamente danificada, machucada e estruturalmente degradada.

Para muitas dessas escalas de danos não há recuperação, não existe tecnologia, recurso ou possibilidade de se recuperar um cabelo que passou por um sistema de alisamento via formaldeído.

 

5 – Quais os riscos para a saúde ao usar escova progressiva com formol?

O formol não é prejudicial apenas para a saúde do cabelo. Por ser uma substância volátil, quando aliado ao secador e chapinha, o formol evapora e fica pelo ar. Isso faz com que ele seja inalado por quem estiver no ambiente.

A substância pode provocar irritação ocular, cutânea e respiratória. Contínuas exposições e inalações ao agente químico podem causar uma série de reações alérgicas como irritação extrema nos olhos e também ao sistema respiratório, como tosse, dor de cabeça, ardência e coceira no nariz e garganta.

Problemas mais graves no sistema respiratório também podem surgir, tais como dificuldades para respirar, bronquite, pneumonia ou laringite. Os sintomas mais frequentes no caso de inalação são fortes dores de cabeça, tosse, falta de ar, vertigem, dificuldade para respirar e edema pulmonar. A Anvisa afirma que a exposição à grandes concentrações de formol podem ser fatais.

Há também o risco de câncer. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer considera o formol como um fator de risco que contribui para o surgimento de câncer, principalmente nas vias aéreas superiores (nariz, faringe,laringe, traquéia e brônquios), leucemia e malformações no feto. Isso porque, quando entra em contato com células saudáveis, esse agente químico desencadeia mutações que podem ser extremamente perigosas.

 

Fonte: Surgical&CosmeticDermatology, 2009.

6 – O uso de máscara durante o procedimento diminui os riscos?

Não.

Uso de máscaras não isentam o profissional do risco. A exposição ao formol pode causar efeitos tóxicos agudos, no momento de sua aplicação ou nas horas que se seguem, pois, o formol continua presente no ambiente. Dessa forma, ao retirar a máscara após a realização do procedimento ainda existe risco de contaminação, não só para o profissional como para todos que estão naquele ambiente.

 

7 – Existem outras substâncias que também são utilizadas de forma irregular para alisar cabelos?

Sim.

O glutaraldeído (glutaral), devido à semelhança química com o formol, também tem sido utilizado de forma irregular como alisante de cabelo. Os riscos para a saúde associados ao uso do glutaral de forma irregular são os mesmos do formol.

O glutaraldeído é de seis a oito vezes mais forte do que o formaldeído para produzir ligações cruzadas na proteína do DNA e cerca de dez vezes mais intenso do que o formaldeído na produção de danos teciduais no interior do nariz após a inalação.

A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) classifica a substância como provável carcinógeno humano. Já New Zealand Nurses Organization considera o glutaraldeído neurotóxico, levando à perda de memória e à dificuldade de concentração, além de cansaço e fadiga.

É proibido o uso do glutaral como alisante capilar, podendo ser utilizando apenas como conservante a 0,1% em produtos cosméticos.

Também estão sendo usadas substâncias que não são formol, mas que quando aquecida pelo uso do secador e chapinha, têm o formaldeído como um de seus produtos finais, e em concentrações perigosas para a saúde, como o metileno, metileno glicol, DMDM hidantoína, Quaternium-15.

Outra prática que vem sendo aplicada no mercado é fazer uma escova progressiva híbrida.

A progressiva híbrida é uma progressiva que tem, por exemplo, ácido glioxílico e também tem formaldeído ou glutaraldeído. Dessa forma, a progressiva híbrida é uma progressiva que tem uma atividade interna através da ação do ácido glioxílico, mas que também cria uma polimerização brilhante, lisa, pesada e enganosa pela ação de formaldeído ou glutaraldeído.

E são vendidas como se fossem somente a base de ácido glioxilico, por exemplo. Mas como também têm formol ou glutaral acabam danificando muitos os fios e prejudicando a saúde de quem utiliza.

Toda progressiva tem essas substâncias ilegais e prejudiciais à saúde? Não!

Mas precisamos ter muito cuidado e saber o que estamos usando nos nossos cabelos. Porque pode ser muito ruim não só para os cabelos, como também para a nossa saúde.

 

8 – Quem já se submeteu à escova progressiva com formol, o que pode fazer? Como deve proceder mediante os efeitos da intoxicação?

Quem já se submeteu a um tratamento capilar com uso de formol deve interromper imediatamente o uso da substância. E mediante os variados sinais e sintomas causados pela exposição ao formol deve-se procurar um médico para uma avaliação mais acurada.

Fique atento ao utilizar algum produto. Se sentir um cheiro estranho, se sentir uma sensação esquisita na respiração, no palato (céu da boca), se der irritação nos olhos, se der vermelhidão na área da face, formigamento na extremidade dos olhos, palpitação, náuseas, tontura, vista embaçada, qualquer um desses sintomas ou outro que você desconfie, abandone o uso do produto imediatamente e procure um médico.

E se quiser continuar alisando os cabelos, uma alternativa é substituir o formol por produtos que contenham outras substâncias com capacidade alisante e que não são proibidas, como o ácido tioglicólico, entre outros.

Lembrando que quanto maior a concentração e a frequência da aplicação indevida do formol, maior o risco, tanto para os profissionais que aplicam o produto, como para usuários.

De todo modo, evite o uso do formol. Se cuide!

 

Referência

BACELAR, L.; OKABAYASHI, C. M.; VIEIRA, S. L. V. Análise da presença de formol e avaliação do pH de alisantes capilares. Arq. Cienc. Saúde UNIPAR, Umuarama, v. 23, n. 3, p, 157-161, set./dez. 2019.

BELVISO, Thiago Iorio. Os perigos do uso inadequado do formol na estética capilar. Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 4, n. 1, p. 74-81, fev.2011

Alisamentos Capilares. Dra. Taynara de Mattos Barreto, pelo Departamento de Cabelos Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio de Janeiro.

Instituto Nacional de Câncer – INCA. Formol. Publicado em 20/06/2022.

https://www.gov.br/inca/pt-br/acesso-a-informacao/perguntas-frequentes/formol

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https://www.manualdaquimica.com/curiosidades-quimica/formol.htm

Surgical & Cosmetic Dermatology 2009. Hair care: a medical overview (part 2).

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ANVISA. RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 645, DE 24 DE MARÇO DE 2022.https://antigo.anvisa.gov.br/documents/10181/6414248/RDC_645_2022_.pdf/e9297c68-b5d4-4780-95bc-9de0251f38ce

ANVISA. RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC N° 765, DE 8 DE DEZEMBRO DE 2022.

https://antigo.anvisa.gov.br/documents/10181/6525617/RDC_765_2022_.pdf/2271161e-3d0d-408c-8224-afa4c4c1db10

ANVISA. INSTRUÇÃO NORMATIVA – IN N° 220, DE 13 DE ABRIL DE 2023.

https://antigo.anvisa.gov.br/documents/10181/6520444/IN_220_2023_.pdf/fef0ae94-be1b-4d82-9503-19dc1c954508

Formol reconhecido como cancerígeno. Conselho Regional de Medicina do Estado do Mato Grosso do Sul. 15/06/2011.

https://crmms.org.br/noticias/formol-reconhecido-como-cancerigeno/#:~:text=Em%202004%2C%20a%20Ag%C3%AAncia%20Internacional,como%20sendo%20carcinog%C3%AAnico%20para%20humanos.

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