COMO O pH INTERFERE NO DESEMPENHO DO SHAMPOO E NA ESTÉTICA DOS CABELOS?

Os shampoos são um dos produtos cosméticos mais vendidos no mundo todo, promovendo a limpeza dos fios. E atualmente, além de limpar o couro cabeludo, muitos também contêm ingredientes para melhorar as propriedades naturais dos cabelos, ou para tratar distúrbios capilares e do couro cabeludo. Mas, se não estiver com o pH correto, ele irá impactar o desempenho dos shampoos, além de impactar diretamente na aparência dos cabelos. Portanto, continue lendo e entenda mais sobre esse assunto. Confira!

 

Os shampoos são invariavelmente um produto aquoso (à base de água) e consiste em três componentes principais:

 

É desejável que o shampoo não só limpe o couro cabeludo como também preserve a maciez, penteabilidade e brilho da haste capilar, bem como contenha ingredientes para melhorar as propriedades naturais dos cabelos e tratar condições que podem acometer os cabelos e o couro cabeludo, como dermatites, seborreia, alopecia, psoríase, entre outras.

Além disso, o shampoo deve ser viscoso o suficiente para permanecer na mão ao dosar antes da aplicação, mas durante a aplicação, sua viscosidade deve diminuir o suficiente para ter uma boa capacidade de espalhamento e dispersão sobre o cabelo e a cabeça.

Vários métodos podem ser aplicados para aumentar a viscosidade dos shampoos, se necessário. Muitas vezes a viscosidade é aumentada adicionando eletrólitos, como o cloreto de sódio, por exemplo.

Porém vários fatores podem influenciar o resultado final do uso dos shampoos como a concentração e a qualidade dos surfactantes, a adição de agentes antiestáticos e sobreengordurantes e o pH final da formulação.

E muitas vezes, nós formuladores, esquecemos desse parâmetro fundamental – o pH. Ele pode impactar muito no desempenho dos shampoos, além de impactar diretamente na aparência dos cabelos.

A Cocoamidopropil betaína, por exemplo, é um dos tensoativos secundários anfóteros mais utilizados em shampoos e a principal característica desses tensoativos anfóteros é a dependência de sua estrutura com o pH da solução.

Os tensoativos são moléculas que possuem uma extremidade hidrofílica (que tem afinidade com a água) e uma extremidade hidrofóbica (que tem afinidade com o óleo).

Sua porção hidrofóbica se liga às gorduras (sebo) e sujidades insolúveis em água presentes no cabelo, enquanto que sua porção hidrofílica se liga à água, formando assim uma micela esférica que é capaz de remover e levar consigo durante o enxágue, as sujidades dos fios às quais se ligaram previamente.

O tensoativo anfótero apresenta carga negativa e positiva na mesma molécula. Assim, em pH alcalino comporta-se como um tensoativo aniônico. Já em um pH ácido, a molécula adquire uma carga positiva e se comporta como um tensoativo catiônico.

Devido a variação de pH ocorre uma transição do formato das micelas esféricas formadas pelo tensoativo para micelas em forma de bastonete. Essa mudança, geralmente, está relacionada a um aumento de viscosidade, devido ao aumento de micelas em forma de bastonetes no meio, como mostra a figura abaixo.

 

Fonte: Adaptado. Cosmetics and Toiletries, may 2021.

Quando lavamos nossos cabelos com shampoo, os fios ficam com cargas negativas, que se repelem embaraçando-se uns nos outros e adquirindo um aspecto áspero e arrepiado. Isso acontece devido a geração de eletricidade estática causados ​​pelos tensoativos aniônicos presentes nos shampoos.

Para reduzir essa eletricidade estática são adicionados em algumas formulações de shampoos tensoativos catiônicos, anfotéricos e não iônicos. Os tensoativos catiônicos, por exemplo, por serem carregados positivamente, se ligam rapidamente às cargas negativas deixadas nos fios dos cabelos pelos tensoativos aniônicos, reduzindo o frizz.

Mas, apesar dos agentes catiônicos tentarem neutralizar a repulsão entre os fios devido ao excesso de eletricidade estática, o pH do shampoo pode interferir, reduzindo essa neutralização das cargas e consequentemente aumentando a elasticidade estática dos fios.

Além disso, o cabelo também possui um pH específico, denominado de ponto isoelétrico e ponto isoiônico, e ele é extremamente sensível à variação de pH dos produtos aplicados em sua superfície.

 

* Ponto isoelétrico: O pH no qual uma proteína ou partícula tem um número equivalente de cargas positivas e negativa, ou seja, encontra-se eletricamente neutra.

*  Ponto isoiônico: O pH no qual uma proteína ou partícula não migra em um campo elétrico.

 

O ponto isoelétrico do cabelo é por volta do pH 3.67, enquanto que seu ponto isoiônico é em torno de 5.6. O cabelo atinge neutralidade de cargas quando o pH está próximo ao ponto isoelétrico. Em cabelos clareados, o ponto isoelétrico é atingido em pHs ainda mais ácidos.

A superfície das fibras capilares tem uma carga negativa por causa do seu baixo ponto isoelétrico. Assim, qualquer shampoo aplicado nos cabelos com pH alcalino ou pH superior a 5,5 pode provocar um aumento na negatividade do cabelo, ou seja, um aumento na eletricidade estática e da repulsão entre os fios, aumentando a fricção dos fios e fazendo com que os cabelos embaracem uns nos outros, tornando-os difíceis de pentear e causando um efeito de frizz, além de poder acarretar danos na cutícula e quebra da fibra.

Portanto, é uma realidade e não um mito que o pH mais baixo dos shampoos pode causar menos frizz por gerar menos eletricidade estática negativa na superfície da fibra, sendo também indicado acrescentar em sua formulação ingredientes que ofereçam emoliência, além de agentes catiônicos.

A exceção são os produtos capilares infantis. Além do pH de uma criança ser diferente de um adulto, existe uma grande preocupação com o conceito “sem lágrimas, ou seja, com a não ardência dos olhos dos bebês e crianças e, por isso, é necessário que o pH dos shampoos infantis seja próximo ao pH fisiológico, ou seja, entre 6.0 e 7.0.

Lembrando que, devido à faixa de pH mais alta, a utilização de shampoos infantis não é recomendada para adultos (principalmente os que possuem cabelos descoloridos).

Entretanto, curiosamente, um estudo realizado com 123 shampoos de marcas internacionalmente comercializadas, comprados na cidade do Rio de Janeiro, verificou que a maioria dos produtos analisados possuíam um pH final superior ao pH da haste capilar de 3,6 e até superior ao pH do couro cabeludo de 5,5.

Apesar de não existir um pH padronizado para nenhuma indicação específica de shampoo capilar, seja ele comercial/popular, anticaspa ou shampoos dermatológicos (comercializados sob prescrição médica), bem como não é obrigatório que a faixa de pH esteja indicada no rótulo ou especificada na formulação dos produtos, ainda se faz necessário mais estudos para estabelecer a melhor faixa de pH tanto para a saúde do couro cabeludo quanto da fibra capilar.

De toda forma, de acordo com a literatura atual, sabe-se que não é indicado que o pH dos shampoos seja maior que 5,5, pois pode danificar o couro cabeludo e a haste capilar, bem como é importante incluir agentes antiestáticos, para evitar um aumento significativo da negatividade da fibra capilar, reduzindo assim o efeito do frizz e facilitando a penteabilidade dos cabelos.

E é recomendado que após a utilização de um shampoo, principalmente se o shampoo tiver um pH superior a 5,5, utilizar um produto condicionador, para que além de devolver um pouco da oleosidade natural dos cabelos, também haja a neutralização das forças eletrostáticas, eliminação do frizz e selagem das cutículas capilares.

Portanto, podemos concluir que o pH de shampoos é um dos fatores que mais afetam o desempenho desses produtos e a saúde e a estética do cabelo, já que valores de pH de shampoos superiores a 5.5 podem gerar irritações no couro cabeludo e agravar os efeitos do frizz e do embaraçamento dos fios, porém a adição de agentes catiônicos no produto pode ajudar a amenizar os efeitos estéticos gerados por valores de pH altos.

Veja também QUAL O pH IDEAL DE UM PRODUTO COSMÉTICO?

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Referência

Gavazzoni Dias MF, de Almeida AM, Cecato PM, Adriano AR, Pichler J. [The Shampoo pH can Affect the Hair: Myth or Reality?] Int J Trichology. 2014 Jul;6(3):95-9. doi: 10.4103/0974-7753.139078.
https://cosmeticsandtoiletries.texterity.com/cosmeticsandtoiletries/may_2021/MobilePagedArticle.action?articleId=1681604&app=false#articleId1681604

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