QUAL O pH IDEAL DE UM PRODUTO COSMÉTICO?

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Toda formulação cosmética tem a indicação do pH ideal para aquele produto e ele é de extrema importância, pois se não estiver adequado pode causar sérias lesões e danos na pele e no couro cabeludo. Portanto, veja qual o pH ideal de um produto cosmético. Confira!

 

 

Para se estabelecer o valor de pH de um produto cosmético é essencial saber o pH da região a qual será aplicada o produto, uma vez que diferentes locais do corpo têm diferentes valores de pH e pode sofrer alterações conforme a etnia, gênero, idade ou perante alterações hormonais e patológicas.

Mas alguns produtos cosméticos têm como função apresentar valores de pH muito diferentes do local anatómico onde serão aplicados como, por exemplo, as tintas capilares, descolorantes ou depilatórios.

E outros têm a função de repor estas alterações de pH, como os finalizadores das colorações capilares ou dos condicionadores, ambos com o pH mais ácido para contrariar a ação alcalina de procedimentos prévios.

Porém, quando utilizamos repetidamente produtos com pH muito diferente do pH do local de aplicação, podemos perturbar a integridade cutânea, por isso é importante escolher produtos adaptados à matriz de aplicação, ou seja, a pele, haste capilar ou mucosas, e à função pretendida.

Via de regra, não existe um pH ótimo a que todos os produtos cosméticos devam obedecer. Contudo, sabemos que os produtos cosméticos devem preservar a integridade da barreira cutânea e a seleção do pH deverá ser efetuada atendendo à função e local de aplicação. E para a utilização segura de determinados ingredientes, a legislação estabelece valores de pH recomendados em diferentes contextos.

 

O pH DA PELE

 

A pele é o extenso órgão que protege nosso organismo do ambiente externo e exerce muitas funções de proteção. Mas, além de seu papel principalmente protetor, a pele também garante numerosas outras funções essenciais, como permeação, metabolismo e termorregulação, contribuindo ativamente para a função sensorial.

O estrato córneo ou a superfície da pele é coberta por uma película composta por sebo, suor e resíduos de descamação. Esta película normalmente tem uma reação química fracamente ácida; daí o uso do termo “manto ácido” fisiológico da pele.

O pH da superfície cutânea é o responsável por proteger as camadas cutâneas, evitando entrada de substâncias do ambiente externo (protege a pele contra bactérias e fungos e ainda contra infecções, alergias, irritações e coceiras) e perda de água e nutrientes da pele. Isso ocorre porque o pH encontra-se levemente ácido, variando de 4,8 a 6,2.

 

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A faixa de pH cutâneo varia conforme a região do corpo. Basicamente, a pele do rosto e do corpo possui um pH entre 4,8 a 6,4, diferindo ligeiramente em algumas regiões, tais como:

a) Mãos: O pH das mãos é menos ácido que em muitas outras partes do corpo. As mãos trabalham muito e estão constantemente expostas a forças externas. Como resultado, o pH da pele das mãos altera-se. O seu manto ácido protetor pode enfraquecer e a pele fica mais suscetível a irritações.

b) Axilas: O pH da pele das axilas é de 6,4, o que a torna mais suscetível ao crescimento de bactérias devido a redução da acidez. À medida que as bactérias se degradam, elas produzem substâncias de odor forte, criando um odor corporal desagradável.

c) Área genital: o pH da área genital é de 6,5.

 

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O funcionamento equilibrado da barreira do estrato córneo é essencial para a manutenção de uma pele saudável; porém a pele humana está constantemente exposta a um ambiente hostil, podendo sofrer alterações neste processo que contribuem para a desorganização da função da barreira cutânea, podendo acarretar no desenvolvimento de doenças da pele.

O pH pode sofrer alterações devido a vários fatores, tais como: idade, gênero, etnia, região do corpo, toxinas ambientais, alterações hormonais e patologias cutâneas, bem como o suor liberado pelas glândulas sebáceas e sudoríparas ou devido a utilização de produtos tópicos inadequados, expondo a pele a microrganismos diversos.

O uso de produtos cosméticos com pH mais elevado que o pH cutâneo, como sabonetes e outros produtos relacionados à limpeza da pele, pode comprometer as propriedades de barreira da pele, provocando um aumento do pH da pele em até 2 unidades, ou seja, se o pH cutâneo está na faixa de 5,5 o mesmo pode alcançar picos de 7,5 quando em contato com produtos mais alcalinos, levando cerca de 120 minutos para retornar ao seu estado de pH natural.

ph idealEstudos mostram que as mudanças no pH da pele podem interferir no aumento da perda de água transepidermal (entre as camadas da pele), colaborando para a desidratação cutânea; além de provocar alterações no microbioma cutâneo, o que pode ser prejudicial para indivíduos que possuam pele sensível ou alguma doença de pele como acne e dermatites, podendo causar reações alérgicas como coceira, descamação e vermelhidão da pele.

Por exemplo, a bactéria Propionibacterium acnes começa a se desenvolver em pH 6-6,5 e atinge seu pico de proliferação em pH 7,5, já o fungo Candida albicans, responsável por causar candidíase, começa a se proliferar em faixas de pH 6.

Portanto não é suficiente apenas levar em conta a faixa de pH de 4,8 a 6,4 ao formular os produtos cosméticos para a pele. Quando formulamos um produto cosmético para a pele devemos nos atentar sobre a capacidade tamponante da pele, ou seja, sua capacidade de absorver uma certa quantidade de íons sem ocasionar uma mudança significativa em seu pH e os métodos pelos quais ela automaticamente, embora algumas vezes lentamente, recupera seu pH normal após ter sido posta em contato com produtos cosméticos alcalinos ou irritantes. Outro fator que devemos considerar é o local de aplicação, uma vez que cada parte do corpo apresenta faixa de pH característica.

Por esta razão o uso de produtos com pH fisiológico da pele pode ser uma solução para evitar alterações no pH cutâneo, como sabonetes líquidos e tônicos faciais. Por exemplo, se utilizarmos sabonetes com pH fisiológico da pele, o aumento do pH é muito menor podendo atingir até 0,75 unidade, e 90 minutos para restaurar seu estado normal. Os tônicos são uma ótima alternativa para auxiliar na restauração do pH cutâneo de forma mais rápida, uma vez que esses produtos normalmente apresentam pH na faixa de 4-4,5.

ph idealO pH ácido da pele age como um antimicrobiano de defesa, que atua impedindo a colonização de bactérias patogênicas, auxiliando principalmente nas doenças cutâneas. Além de favorecer a integridade cutânea, o pH ligeiramente ácido poderá contribuir para melhorar a estabilidade química e microbiológica do produto cosmético, assim como para aumentar a sua eficácia.

Sendo assim, formular produtos com pH que respeite o pH fisiológico da pele irá ajudar na manutenção tanto da barreira protetora quanto do microbioma cutâneo. Salvo em casos em que seja necessário utilizar um pH mais agressivo, mais distante do pH da pele, para fins específicos. Mas deve ser utilizado com muito cuidado pois provoca um desequilíbrio no pH da pele.

 

O pH DO CABELO

 

ph idealO cabelo é uma estrutura inanimada formada basicamente por proteínas. Didaticamente o cabelo se resumiria a proteína, óleo e água.

Quimicamente falando, cerca de 80% do cabelo humano é formado por uma proteína conhecida como queratina, com alto teor de enxofre – proveniente do aminoácido cistina – que é a característica que a distingue de outras proteínas.

A queratina é um complexo laminado formado por diferentes estruturas, que confere ao cabelo força, flexibilidade, durabilidade e funcionalidade. E é devido a composição da queratina, que os cabelos são ricos em cargas negativas que tendem a aumentar ao longo do dia na superfície.

A fibra capilar é composta por três estruturas principais: cutícula, córtex e medula.

A cutícula é a superfície da camada capilar, cobrindo o fio capilar do couro cabeludo até as pontas como camada sobreposta e é o componente mais importante do cabelo humano, dentre várias funções tem a nobre tarefa de proteger o interior da fibra capilar. E é na cutícula que a maioria dos produtos cosméticos agem.

Os cabelos podem apresenta cargas elétricas positivas e negativas, que muitas vezes depende do pH. O pH do couro cabeludo é de 5,5, já a cutícula tem um ponto eletricamente neutro (quantidade de cargas positivas e negativas iguais) sob pH 3,8 (ponto isoelétrico).

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Esquema das cargas elétricas na superfície dos cabelos em função do pH do meio.

Porém quando os cabelos ficam em contato com produtos cujo valor de pH é superior a 3,8 torna-se mais negativo, pois os grupos amino (NH3+) perdem suas cargas. O excesso de cargas negativas, por exemplo, é responsável pelo acúmulo de eletricidade estática e repulsão entre as fibras capilares.

No entanto, em valores de pH abaixo de 3,8 o cabelo se torna mais positivo porque os grupos carboxila (COO-) são protonados e há predominância de grupos amina (NH3+).

O pH ácido protege a proliferação de fungos no couro cabeludo, dentre outros microrganismos, além de manter a cutícula do cabelo “fechada”, impedindo a entrada de substâncias, bem como a perda de água ou nutrientes para o ambiente, ajudando, por exemplo, a preservar a cor depositada nos cabelos assim como outros tratamentos hidratantes.

Sendo o pH capilar ácido, sempre que aplicamos substâncias com pH diferente disso, alteramos a estrutura da fibra capilar. Assim, quando mergulhamos um fio de cabelo em uma solução com pH impróprio (abaixo de 3 ou acima de 9), torna-se possível a ação no interior do cabelo e é aí que mora o perigo.

Nada acontecerá se o contato for breve, como em uma aplicação de shampoo mais básico (pH alto) ou condicionador mais ácido (pH baixo), por exemplo. O problema mora no uso frequente e duradouro como por exemplo em alisamentos, relaxamentos, descolorações e colorações, que geralmente são realizados mensalmente e em aplicações que duram cerca de 40 minutos.

ph idealDessa forma, produtos que precisam abrir a cutícula do fio para mudar a estrutura da fibra capilar tem pH alcalino para facilitar a penetração do ativo, como colorações, alisamentos, relaxamentos e descolorações, porém pode danificar os cabelos, tornando-os ásperos, quebradiços e ressecados.

O outro extremo também é prejudicial, por exemplo, as escovas progressivas. O pH nesse caso é bem ácido e deixa o fio de cabelo enrijecido, causando quebras e danos severos.

Isso acontece, porque em valores de pH extremos (extremamente alcalinos ou extremamente ácidos), com a absorção de ácido ou base, a fibra capilar incha e força uma maior abertura das cutículas, possibilitando dano permanente ao interior da fibra.

Por isso um cabelo que passa por essas transformações químicas necessita de muito tratamento, mesmo que esteja aparentemente com brilho e sedoso. Esse cabelo está danificado estruturalmente.

E como todos os produtos para os cabelos podem ocasionalmente ter contato com os olhos ou a boca durante o uso (nem que seja durante o enxágue), por segurança, o pH neutro próximo de 7 seria o ideal. Isso seria uma coisa lógica a se fazer.

Porém, devemos nos atentar quando um pH é considerado “neutro” para os cabelos. Um pH “neutro” não quer dizer, necessariamente, que ele seja 7. Se o pH do nosso cabelo é em torno de 3,8 a 6,0, um produto com um pH acima disso, pode ser considerado alcalino em relação a nosso cabelo, ok?

 

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No entanto, para que a maioria dos conservantes em produtos cosméticos tenham sua ação máxima, é necessário um pH levemente ácido para se manterem estáveis e ativos durante o prazo de validade do produto. Por essa razão, a maioria dos produtos cosméticos de uso frequente tem pH entre 5 e 7.

Para produtos de uso diário enxaguáveis (rinse off), como xampu e condicionadores por exemplo, manter o pH entre 4 e 6 é uma faixa razoavelmente segura para os cabelos, pois apesar do ponto isoelétrico ser desequilibrado momentaneamente, não terá tanto impacto nos cabelos porque o tempo de contato desses produtos com os fios é relativamente curto por ser enxaguável.

Para produtos que não serão enxaguados como géis capilares, cremes de pentear e outros leave-in, geralmente o pH fica entre 4 e 4,5. Além disso, são produtos com outros ingredientes como emolientes e umectantes.

O que vale a pena levar em conta para produtos não enxaguáveis é: quanto distante de 4,0 for o pH da fórmula, maior deve ser a concentração de agentes catiônicos para neutralizarem as cargas negativas (que aumentarão nos cabelos em função do pH).

De modo geral, os produtos para os cabelos variam entre os valores de pH abaixo:

 

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Alguns cabelos são mais frágeis e sensíveis e outros são mais resistentes aos tratamentos mais suaves ou mais agressivos. Por isso é importante conhecer sobre o cabelo e a pele para que os formuladores possam criar produtos que não sejam agressivos aos consumidores.

Também é interessante saber identificar o pH dos cabelos para fazer o tratamento adequado e restabelecer e reequilibrar o pH dos fios, caso seja necessário.

ph idealPara saber de forma qualitativa o nível de pH dos fios devemos avaliar a textura e condições dos cabelos. Se os fios estão saudáveis, brilhantes, com aspecto selado e macio, então estão com o nível de acidez apropriado.

Porém, caso o fio esteja frágil, quebradiço, ressecado ou muito elástico, certamente ele está alcalino e precisa de cuidados urgentemente.

Uma das características do cabelo alcalino é a porosidade, geralmente, os cabelos porosos são aqueles mais danificados. Para descobrir se esse é o caso, é só fazer um teste de porosidade. Se o resultado for positivo, é muito provável que o cabelo esteja alcalino mesmo.

Veja também COMO CALCULAR O EHL (HLB) DE UMA EMULSÃO?

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Fonte:

Zlotogorski A. Distribution of skin surface pH on the forehead and cheek of adults. Arch Dermatol Res 279:398–401, 1987

Cosmetics & Toiletries (Brasil) Vol. 28, mai-jun 2016 Função de Barreira da Pele e pH Cutâneo

J. B. Wilkinson-R. J. Moore. Cosmetologia de Harry.

Cosmetic Dermatology Products and Procedures, edited by Zoe Draelos. Second edition.

Wells, F.V.. Cosmetics anda the Skin.

http://science-yhairblog.blogspot.com/2013/07/ph-and-your-hair-little-redox-to-make.html

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